Por: Doiara Santos
Quem não foi a um evento na área da Educação Física (EF) e não ouviu que a mídia contribui significativamente para que se confunda Educação Física e Esporte?Ou que a mídia inculca na sociedade a ideia de que é na escola que se deve “descobrir os talentos esportivos? E que por causa da Copa em 2014 e dos Jogos de 2016 a pressão da mídia terá poder coercitivo de forma tal que os professores de EF privilegiarão ainda mais alguns esportes (futebol e voleibol principalmente) como conteúdo das aulas de EF nos próximos anos?
Isso me soa como se a mídia fosse uma “entidade independente” que detém como numa espécie de “mágica” grande poder e influência sobre as massas. Parece um tocar de flauta encantada que mobiliza a massa (uma hipnose) e que o professor deve estar imune a esse encantamento. Fica a questão: Ser “crítico” significa olhar a mídia como uma ameaça, como uma manipuladora de discursos, como altamente governada por interesses políticos, como um “ser” que naturalmente contamina e influencia os “não-críticos” (pobres coitados destituídos da capacidade de pensar)?
É equivocada a “maledicência” sobre a mídia. Quem faz a mídia? Já dizia Hall (2003) que “o que a mídia capta já é um universo discursivo”. O que a mídia veicula está socialmente constituído, faz parte de representações, significações e atitudes da própria sociedade. A mídia tem influências da política? É claro! Mas todos nós a temos, seja de forma ativa, seja de forma passiva: abster-se da discussão política já é uma forma de participar (fica passível de discussão situar o quanto isso pode ser prejudicial ou não). Apontar a mídia como “culpada” é tirar-se de foco (professores de Educação Física ou professores em formação).
Ainda é um desafio trabalhar com a mídia na Educação Física? Em termos de metodologias de ensino estamos bem servidos com o desenvolvimento da mídia-educação e outras teorias que estão sempre em desenvolvimento para serem apropriadas e didatizadas de acordo com cada realidade. Desafio maior me parece “parar” com o processo de “demonização” da mídia quando esta é tema das aulas, conferências, seminários, etc. Por exemplo: “a mídia é que faz isso”, é culpa da mídia”. O deslocamento do foco, da culpa, abster-se da responsabilidade, com os velhos e convenientes apelos de que ações isoladas não resultarão em nada, ou que “isso não é problema meu” ou que “eu não tenho tempo para pensar nisso”, ou que “eu não me envolvo com política”, nada contribuem para que as mídias “captem” outro universo discursivo, pelo contrário, tornam hegemônicas estas narrativas, ou seja, tornam uníssonos os “demônios” da Educação Física (a mídia e o discurso sobre esporte). Talvez isso seja altamente conveniente.
Mas, a mídia e como ela aborda o esporte não são os “demônios da EF”. Os “demônios” são outros: a falta de atitude, de mobilização e prática política-pedagógica, e tudo que contribui para isso.É complexo, mas não é inatingível... Começa com a auto-responsabilização da realidade que o circunda (no sentido pejorativo peço licença para dizer uma "autoexorcização" coletiva) , pois, em muitos casos é essa mesma que vai parar nos veículos midiáticos.
Indicação de leitura: Pensando a nossa prática: as interdependências humanas, a política e o professor de Educação Física.
LINK: http://www.efdeportes.com/efd150/a-politica-e-o-professor-de-educacao-fisica.htm